NÃO SOMOS LEIGOS.
Geraldo Maia Câmara*
Bento XVI, na abertura da Conferência de Aparecida, convocou os fieis católicos a assumirem sua missão com entusiasmo e audácia. “Devem sentir-se co-responsáveis na construção da sociedade segundo os critérios do Evangelho, com entusiasmo e audácia, em comunhão com os seus Pastores”.
Batizados, participamos do sacerdócio de Cristo. Somos leigos em alguns assuntos; ser leigo em Igreja é inconcebível para um batizado.
Nomenclatura errada leva a erro de doutrina e a comportamento, inconsciente, de afastamento. O crescimento das seitas tem, entre outros enganos, esta concepção de que o "leigo" não vive uma "vida religiosa", “uma vida consagrada”.
Esta noção está enraizada no inconsciente do fiel católico “leigo” que vai tornando-se infiel até abandonar a Igreja e agregar-se às seitas por falta de instrução e sensação de isolamento. Em alguns países, templos católicos estão expostos à venda por absoluta falta da presença de fieis.Todos somos "freis" e "freiras", todos nós somos “irmãos”, os protestantes chamam-se, assim, entre eles.
ERRAM OS QUE PENSAM QUE ISTO É SÓ "UMA QUESTÃO DE NOME", não é, é questão de função, de participação, de vivência, de concepção consciente e inconsciente.
Este é um dos motivos REAIS (entre outros que também precisam ser mudados), do esvaziamento dos templos em alguns países de maior cultura e da evasão de fieis católicos para as seitas fundadas por homens, como fundado por homens, dentro da Igreja, é o Clericalismo.
O Papa deu ainda um recado à hierarquia da Igreja: “Promover o amadurecimento, co-responsável, com a missão de anunciar e fazer visível o Reino de Deus”. Grande parte dos católicos não recebe instrução adequada e suficiente para ser firme na fé e anunciar o Reino de Deus com “e entusiasmo e audácia”
Membros da Igreja de Jesus estão, com motivação inconsciente, procurando as seitas onde não existe esta radical separação . Todo cristão deve viver a castidade, a obediência e a pobreza .
Em nosso tempo o fiel católico não é mais “leigo”, não é mais OBJETO da Missão, essa fase passou, agora somos SUJEITOS, somos agentes, entusiasmados anunciadores, conforme o Espírito Santo nos tem mostrado, e evidenciado, através dos documentos pontifícios nos últimos tempos.
A Igreja, que eu amo, Una, Santa, Católica, Apostólica, Romana, única Igreja de Jesus Cristo, fundada sobre Pedro, tem um grande inimigo na radical separação entre o clero e os discípulos anunciadores, que continua chamando "leigos" (desconhecedores) e separando quem não é "religioso" ou "consagrado". Todo batizado é religioso e consagrado.
A palavra "leigo" usada em lugar de "fieis católicos," “discípulos”, “missionários,” é expressão discriminatória e exclusivista . Todo fiel católico é "religioso", "consagrado" e "irmão", participa, segundo as Escrituras e a Doutrina da Igreja, do Sacerdócio de Jesus Cristo.
“ Designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir”. (Lc 10,1)
“Vós, porém, sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis as virtudes daquele que das trevas vos chamou à sua Luz maravilhosa.”(1ª Pd 2,9)
Hoje não “assistimos” à Missa, em uma língua estranha, (para a grande maioria), mas, “participamos” dela em nossa própria língua. Podemos acolitar o Santo Sacrifício, ler e pregar a Sagrada Palavra, sem precisar receber qualquer tipo, especial,de “Órdem.” Não somos mais leigos, somos participantes, missionários, conhecedores, e se ainda não somos completamente conhecedores a culpa não nos cabe com exclusividade.
“Entretanto, ninguém poderá acusar meu povo, nem o repreender, porque meu povo se perde por falta de conhecimento." O Senhor usou o profeta Oseias (4,4-6) para esta advertência.
Nos dicionários e em nosso inconsciente, desde crianças, a palavra “leigo” é sinônimo de "ignorante", "desconhecedor," “inexperiente em determinado assunto,” “pessoa não pertencente a determinada profissão ou não versada em algum ramo de conhecimento ou arte”, ou "serviçal de convento," e é assim que, também, consciente ou inconscientemente, somos chamados e julgados.
Ainda, com base nas Escrituras, podemos usar o mesmo argumento que Jesus usou, quando passeava no Templo, no Pórtico de Salomão e os judeus começaram uma discussão provocativa; disse Jesus: “se a Lei chama deuses (salmo 81,6) àqueles a quem a Palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser desprezada (Jo10,34-35). Nós perguntamos: como podem estes deuses, a quem a Palavra foi dirigida, continuarem sendo chamados “desconhecedores”, “estranhos”, “leigos”
Nós, os católicos fieis, os discípulos, os missionários, somos sabedores e estamos conscientes de nossa participação e função na Igreja de Cristo, somos “uma raça escolhida” um “sacerdócio régio” conforme afirma, inspirado pelo Santo Espírito, nosso primeiro Papa; não somos ignorantes nem desconhecedores.
Está na hora de substituir esta palavra por: "FIEL CATÓLICO", “DISCÍPULO”, “MISSIONÁRIO” ou por outra que o Espírito Santo inspire. No início éramos chamados “DISCÍPULOS”, e os discípulos não eram leigos, eram “missionários e foram enviados dois a dois, e difundiam os conhecimentos que haviam recebido e continuavam recebendo do Espírito Santo que também ensina, diretamente, no coração dos simples.
O cristão católico é batizado, não é LEIGO quando o assunto é IGREJA. Toda palavra tem uma conotação, também, inconsciente. Não é em vão que São João afirma: "a PALAVRA se fez Homem e habitou entre nós".
"Você acredita, o inconsciente realiza" é uma das afirmações do teólogo Carlos Afonso Schimitt, com mais de 60 livros publicados. Por causa desta conotação inconsciente, muitos estão deixando a Igreja para serem "irmãos", "consagrados" e "religiosos" nas seitas.
É necessário mudarmos nosso comportamento para que dentro de algum tempo a Igreja não fique formada por grupos isolados, templos cada vez mais vazios e católicos mais perseguidos, como já está acontecendo em alguns países. Precisamos mudar!!!
O Espírito do Senhor já nos fez conhecedores de uma nova função, cabe a nós mudarmos nossa denominação. Somos discípulos, missionários conforme a vontade de Jesus expressa nas Escrituras. Das trevas o Senhor nos chamou à sua Luz maravilhosa (1ªPd2,9). "Leigo” é uma denominação de duplo sentido, inoportuna e extemporânea.
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* Geraldo Maia Câmara é Psicólogo, Poeta, Escritor, Professor Universitário, Membro da Academia Alagoana de Cultura e Instrutor de Programa Arquidiocesano de Formação do Discípulo Missionário.
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